quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

L´obscurité et les désirs





Enquanto o mundo lá longe gira no seu ritmo acelerado, aqui criamos um universo demorado, espaçado. O tempo se faz tão lento que é possível perceber a dança delicada da poeira fina que se mostra inteira para a luz do sol que, ousada, atravessa os galhos das árvores e ilumina o chão desnudo. O tempo aqui é verde-floresta, azul-riacho e, algumas vezes, branco-asa-de-borboleta. A quietude brota do solo como planta viçosa, a simplicidade surge junto com as águas transparentes nas nascentes e a única coisa que eu ainda preciso é da sua presença. Aqui, os dias são longos e quando o sol se põe, posso perceber ainda mais a beleza infinita das cores refletidas no céu raiado rubro-violáceo. Ao seu lado, as noites são urgentes e quando ela chega, cresce o silêncio. Gostaria de dizer ‘não dorme essa noite, quero os seus olhos abertos sobre mim’, porém não me atrevo a quebrar o silêncio com palavras. O único som que nos permitimos são as respirações ofegantes e o roçar da nossa pele. Seu corpo pesa sobre o meu e na escuridão posso ver seus olhos lindos e ardentes se aproximarem dos meus, nossos lábios se abrem e os olhos não se fecham. Deixo as portas da minha alma abertas e sei que você a vasculha enquanto me beija, deixo que meus desejos subam pelas raízes como seiva e alimentem meus braços que te prendem cada vez mais forte. Que acabem os espaços entre nós; se preciso for, me dobro, me encolho, me moldo, mas quero que sua vontade me inunde e depois me inunde mais, até submergir meus sentidos. Te toco, escuro. Te sinto, claro. Não há mais um ponto onde eu termino e você começa; em meio à escuridão, tenho a clareza que somos um. Não é necessário ver para ter essa certeza. Quase inconsciente, desejo que o tempo fique mais lento para que o sol não quebre a ingenuidade da ausência de luz, mas basta fechar os olhos por um instante para que tudo se acabe e a claridade traga um novo dia. É o fim. Porém, não é o fim de tudo, já que esse fim é o breve momento entre um início e outro início.

Juliana Varaschin

Foto: Vinicius Fonseca

Um comentário:

Renatinha Andrade disse...

Juzinha,
Além de linda, meiga,e muito querida...também escreve com muito bem!

Beijão Renatinha!