sábado, 6 de dezembro de 2008

Última página ou lembranças de alguém que se foi


Caminhávamos por entre os prédios seguindo, sem perceber, um destino que já havia sido traçado por outros amantes. Seus passos ajustados e constantes nos conduziam e meus olhos úmidos e sôfregos questionavam: há algo pelo qual valha à pena correr? Olhei através do ar espesso e vi seus pés fincarem o chão, percebi que a cada passo largo seu, você se distanciava, criando um espaço entre nós no qual cabem muitas incertezas.

Quis pedir para você esperar, mas havia algo mais denso que me encerrava os pulmões e impedia que os sons vibrassem dentro de mim. Continuei a te seguir, me esforcei para te acompanhar, apertei o passo, perdi o fôlego e o rumo. Vi você se distanciar como um balão solto ao vento, meus olhos se encheram da visão turva de um vulto que sumia na bruma clara da última manhã dos nossos dias.

Por isso fico aqui, escrevendo cartas para quem não conheço, tendo lembranças do que jamais vivi, criando finais felizes e dias de sol. Por isso tento conviver com o afastamento, mas nem sempre é uma tarefa fácil porque hoje cedo o silêncio se transformou em algo muito parecido com dor. Tentei preenche-lo com lembranças ou com aquilo que existe ou com o que eu suponho existir, no entanto só possuo a imagem de algo que não conheço. É por isso que estou aqui comigo e mais ninguém, porque só posso conviver com aquilo que é real para mim.

Juliana Varaschin

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