quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Velhice



Que coisa mais adorável, esses velhinhos sentados no café. Três casais, cabeças branquinhas. Três casais não, três senhoras e dois senhores. Deduzo que uma dessas senhoras já tenha enviuvado. São amigos, por volta dos 60 anos. Bebem seus cafés, comem e agem de acordo com a avançada idade. Exceto que o humor - a ‘vibe’- é a de quem provavelmente teve uma vida feliz. De quem não se deixou absorver pelas chatices do dia- a- dia ou pelos desagrados que a existência esconde em suas esquinas. Sei lá, às vezes até se deixaram absorver. Porém, quando juntos, o amargor dá espaço a algo muito melhor. Eles têm a companhia uns dos outros e, possivelmente por isso, são claramente diferentes de muitas pessoas dessa idade. Veja bem, não estou falando de super velinhos mega animados, saídos de uma propaganda de suco de laranja. Falo de gente normal. Com trejeitos de velhos e tudo mais. No entanto estão aqui na minha frente sorrindo uns sorrisos leves e gostosos, conversando possivelmente sobre assuntos pertinentes a idade. Sobre qual enfermeira dá o melhor banho, sei lá. Vejo que se preparam para sair. Levantam, pagam a conta e vão embora.

Vislumbrar esta cena me fez (inevitavelmente) pensar em meus amigos. Quantos momentos maravilhosos temos todas as vezes que estamos juntos. Quisera eu que toda a vida fosse feita desses momentos. Não pude deixar de nos imaginar daqui a uns muitos anos, quando tudo já tiver mudado e muita água já tiver passado debaixo da ponte. Não consigo deixar de imaginar como é doce a vida desses velhinhos simplesmente por terem uns aos outros; foi-me impossível evitar vislumbrar (e deslumbrar-me) como será doce a nossa vida. Doce ela já é, e muito. Queria, neste momento, ter uma máquina do tempo. Queria ser levada para muitos anos a partir de agora, onde estaríamos sentados num café em algum lugar do mundo conversando sobre qual marca de fralda geriátrica é mais eficiente.

Não pude deixar de pensar que, muito mais do que simplesmente carregar memórias boas de um tempo vindouro, nós ainda estaremos vivendo muita coisa maravilhosa. Ainda estaremos desfrutando da nossa jornada nessa terra. Esses velinhos me lembraram de como a vida é gostosa e como estar bem acompanhado nela é delicioso.

Yves Saint Laurent, ao ser entrevistado, uma vez disse que o seu conceito de alegria perfeita é dormir com a pessoa que se ama. Para mim, o conceito alegria perfeita é: dormir, acordar, ir pra festa, chorar as pitangas, ouvir música, fazer nada, ver tevê, ir ao cinema, viajar, comer, passear, comer, passear com o cachorro, tomar sorvete, tomar café, pegar ônibus, pegar metrô, tomar esporro, tirar foto, gargalhar (ah, gargalhar!) enfim, fazer qualquer coisa com as pessoas amadas. Ter companhia é, sem dúvida, o elixir da longa vida. E estar com os amigos é como beber da fonte da juventude. Nada faz a vida valer tão à pena. É o que esses velinhos provaram hoje, ao beberem seus cafés e conversarem suas conversas. Estão na flor da idade, aos 60 e poucos anos.



Aos meus amigos, sem os quais sou “shava”


Clarissa Moura

2 comentários:

Anônimo disse...

E viva a vida ! Como se eterna fosse, sem fim, sem medo, sem preocupação.

Ainá Vietro disse...

linda, linda, linda
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