sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fascínio


Teus pés descalços tocavam o solo. A cada passo que davas, eles se arrastavam sobre a terra como a acariciá-la. Tu foste te afastando de mim enquanto todos dançavam a tua volta. Tuas mãos desenhavam pequenos círculos no ar e teus braços acompanhavam o movimento sinuoso dos teus quadris. A partir do momento que te levantaste para dançar, a música começou a tocar somente para ti. Cada acorde era marcado pelas batidas dos teus pés no chão como se os arranjos fossem escritos pensando no teu corpo doce e harmonioso. Os pés delicados, tuas pernas que se fazem notar quando tua saia rodopia, tua cintura graciosa.

O vento que soprava por entre as árvores trazia o teu cheiro. Tu ventavas sobre mim. Da tua pele nova partia um perfume de alecrim, de luar, de libertação. Como poderia esquecer dos teus cabelos negros que balançavam nas tuas costas e que, às vezes, maliciosamente, escondiam o teu rosto? Dele brotava um sorriso que iluminava todo o lugar. A clareira de chão batido era iluminada pelo teu riso solto e prazenteiro. Sabendo que tua figura é um deleite para os meus olhos cansados, tuas mãos tocaram a tua saia e, com um movimento certeiro, tu elevaste a barra da saia, colocando as costas das mãos sobre os quadris. Lançou na minha direção um olhar brejeiro e um riso de boca inteira que me fez eriçar.

Tu continuavas a dançar mesmo sabendo que todos a tua volta agora estavam a te olhar. Em verdade, era isso que tu querias desde o início. Querias platéia para o teu ato, querias que todos vissem que tu dominavas um homem feito como eu com o simples deslocar dos quadris. Estava hipnotizado por ti, pelo teu corpo, pelo teu cheiro, pelo teu feitiço. Poderia construir um altar em tua homenagem, um mausoléu para perpetuar a tua memória, a memória dessa tarde de outono em que estou totalmente entregue aos teus movimentos.

Lançaste o teu corpo na minha direção, cabeça tombada para trás, cabelos soltos ao vento e teus olhos a me julgar. Precisei de um pouco de ar. Quase não pude suportar ver os teus seios por uma fresta que se abriu na tua blusa suja da poeira que teus pés levantaram da terra. Imploro para que essa tortura em forma de dança termine e eu possa te possuir com todas as tuas partes: tornozelos, seios, queixo, ombros e ventre. Mas tu pareces gostar cada vez mais deste jogo que me atormenta. Por fora, me controlo; por dentro, tu me dominas. Tu és senhora de mim e dos meus desejos.

Teus pés te trouxeram para mais perto e teu cheiro de faceirice me invadiu. Só tenho sentidos para ti, só tenho imaginação para os teus sentidos. De perto, tu és ainda mais completa, a pele lisa, os olhos cor de amêndoa, teus lábios finos comprimidos entre os dentes. Penso naquela parte das tuas coxas que me envolvem quando deito sobre ti. E tu continuas a brincar com os meus pensamentos como tu brincavas de boneca antes de eu te arrancar os primeiros gemidos. Te aproximaste um pouco mais até que a ponta dos teus dedos tocaram a minha face para que eles gracejassem com a minha inércia. Quis arrancar a tua roupa e te beber por completo, sem demora. Mas teu corpo primoroso merece muito mais, tem direito à perfeição de uma entrega infinita.

Juliana Varaschin

Um comentário:

Ainá Vietro disse...

quantas palavras escondidas dentro de você.
é bom descobrir!