sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Bettie Serveert

Banda holandesa, CD de 2004, faz parte da trilha sonora de um vídeo de surf. Pode parecer ruim, mas é bom. Aliás, é delicioso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Caroline



Quantos segredos contem Caroline? Seu olhar profundo, as rugas na testa, que não diminuem a sua beleza, lhe conferem um ar de sedutor mistério. Seus olhos grandes captam todos os movimentos do cosmos, mas sua boca pequena geralmente cala. Seu corpo miúdo, quase franzino, abriga um oceano de histórias que poucos ousariam imaginar. Por baixo desses véus, existe um coração que não lhe pertence. Quantos amores cabem em Caroline? Certa vez, de tanto amar, resgatou o amor no coração do descrente. Outra vez, amou tão loucamente que semeou o amor no coração daquele que se iniciava nessa arte.

Certamente, Caroline era especial. Nem era pela sua doçura e encantamento, mas era especial por ser tão intensa. Do seu ventre, brotava fogo. Pela sua pele, exalava desejo. Ela era assim, ardente e carnal, etérea e delicada. Era única e muitas. Tinha a liberdade de um pássaro, o vigor e a exuberância de um felino selvagem. Amava com o corpo e com a alma. Uma vez, Caroline amou demasiadamente, amou desesperadamente a ponto de perder-se de si mesma. Mas ela não desistiu, pois tem a inocência de uma criança. Ela nunca desiste porque sabe que seus sussurros indecifráveis serão ouvidos no mais recôndito canto do universo.

No corpo pequeno de Caroline, mora um coração que não lhe pertence e que mal lhe cabe no peito. Esse coração bate descompassado, acelerado, mas não importa. Caroline tem pressa de amar.

Juju Varaschin

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cibelle & Devendra Banhart




Essa linda moça brasileira faz pouquíssimo sucesso por aqui, mas é um fenômeno na Europa. Nesse clip, faz uma parceria com o fantástico Devendra e transforma um clássico em um som swingado delicioso.Imperdível!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fiat Lux



Se eu pudesse por um instante apenas vislumbrar as formas que me cercam. No escuro, tudo tem a mesma forma, nada tem contorno, nem sombras. Se eu pudesse ser um clarão, um relâmpago, um estrondo, eu veria tudo. Veria aquela moça que se move misteriosamente pela calçada. Mesmo que fosse por um pequeno instante, veria aquela criança que foge assustada com a chegada da chuva. Mas enxergar é limitar-se aos olhos. É não permitir-se ir além da pele, é criar barreiras onde não há. É como colocar o mundo dentro de uma caixa onde ele não cabe. Existem muito mais coisas para além do mistério da moça, para além do medo da criança. Há o sabor dos passos apressados, o cheiro da calçada, a sensação da chuva que não demora a cair, o barulhinho bom dos cabelos ao vento, os pensamentos soltos no ar.

Preciso ir embora e deixar pra trás o rastro dessa escuridão que ainda escapa pelo vão da porta. Cansei dessa alma turva, escura, que de tão inóspita nem se parece comigo. Preciso ir embora e não levarei as chaves porque não pretendo mais voltar. Não que haja alguma mágoa ou ressentimento, somente há o desejo de ver a luz. Neste momento, prefiro ser o clarão, o relâmpago, o estrondo, que mesmo sendo intangíveis, desvendam a beleza das formas. Levarei comigo os aprendizados do tempo de reclusão para que eu possa ir além do visível, do palpável, do sonoro. Quero abrir minhas janelas para o sol, para ver a moça e seus mistérios, a criança e suas alegrias. Eu quero ver mais, sentir mais, cheirar mais, amar mais, mas dessa vez eu prefiro a luz.

Juju Varaschin

(dica para a galera http://www3.vangoghmuseum.nl/vgm/index.jsp )

sábado, 25 de outubro de 2008

Penumbra.


A penumbra do ambiente pinta as paredes com suavidade. Não estamos sozinhos no restaurante. O riso de outras mesas é abafado pelo nosso silêncio, pelos nossos olhares que não se encontram. Sorvo um gole da minha taça, sem prestar muita atenção. A comida chega e, com ela, parece que chega a minha urgência. Urgência de sei lá o quê. De me livrar daquilo que habita em mim. De sair do deserto em que me encontro. Pois estar ao seu lado me fez seca. Ao seu lado sou árida, vazia, inabitável. Sou um fantasma de mim mesma. Não sou nada além de uma turva sombra do que um dia fui.

O bom restaurante é ofuscado pela presença de nós dois. Pela presença da entidade, da instituição falida ‘nós dois’. Sentados conosco estão os nossos problemas, nossas diferenças, nossas brigas. Em suma, o nosso profundo desencontro. Um desencontro sistêmico, que permeia tudo o que fazemos e o que nos transformamos.

Acho impossível rir de suas piadas, gostar do seu cheiro no lençol, admirar tua forma de caminhar, celebrar teus sucessos, desfrutar da sua companhia. Neles, eu só vejo você. Vejo o que não gosto, o que não quero, que preciso me afastar. Mesmo as bonitas mãos que sempre me atraíram agora gesticulam algo diferente. Até elas me lembram de tudo aquilo que não dá mais. Cada vez que observo você se movimentar, a minha vontade é estar longe. Quero estar onde o único movimento a ser feito seja o meu, a única voz ouvida seja a minha e os únicos desejos pairando no ar sejam os meus próprios. Quero correr para a tormenta, para o furacão; para onde eu saia do meu limbo, da minha hipnose.

Vem a conta. Vamos embora. Ao levantar, percebo a ruidosa atmosfera de festa e alegria que preenche o espaço. Dentro de mim só existe silêncio. E entre eu e você existe um abismo. Nele não existe nada além de um persistente eco do que um dia fomos.

Chegamos a nossa casa. Nos preparamos para deitar e é na cama que mais uma vez buscamos o encontro. Os pés que se procuram e se tocam sob as cobertas. Ah, como eu preciso te encontrar, meu amor. Nem que seja por um instante, em qualquer nível, de qualquer forma. Dos pés, nos abraçamos. O calor do corpo encostado em mim traz um estranho consolo. Vou adormecendo aos poucos. A lembrança da noite vai se tornando embaçada, distante. Um pouco grogue, por um segundo sinto que te achei. Desde o começo da noite, tudo que desejei foi esse encontro. Mesmo que só por um segundo, preciso acreditar que ainda te amo.


Clarissa M.

Amanheço

Amanheço em mim. Abro as cortinas, a tua luz invade o meu quarto e afugenta as minhas sombras. Abro as janelas e permito que a brisa do teu alento levante a poeira há muito acumulada sobre os móveis. Preciso separar as minhas coisas das tuas, meus discos dos teus, meus quadros dos teus, meus pensamentos dos teus. Mas não leve embora os teus livros. Arrumei um espaço na estante, perto daquele vaso vermelho. Os meus ficarão à direita, os teus, à esquerda. Deixe teus livros aqui para que eu possa sentir a tua presença através deles, pois eu sou o meu próprio veneno e tu és o antídoto.

Entardeço em mim. Vejo o sol dar lugar à lua ainda criança. Quanta pretensão a nossa, meu bem, querermos viver no mesmo universo, se nem mesmo o sol e a lua conseguem existir sob o mesmo céu. Mas não te preocupe, eu também não me aflijo. Ainda podemos nos deitar sobre a mesma cama e recostar nossas cabeças no travesseiro da aceitação mútua. Se tu ficares esta noite, prometo te contar um segredo, pois eu sou o ruído e tu és o silêncio.

Anoiteço em mim. Fecho as janelas e as cortinas. Prefiro o escuro para me despir de mim mesma. Tire as tuas roupas também, livre-te da tua pele, carne e ossos. Não quero o frio, o cru, o orgânico; quero o quente, o inominável. Misture teus sentimentos e emoções com os meus, a fim de aproveitarmos a impecabilidade deste momento. Sei que somos as margens opostas de um rio, mas sempre há um lugar onde elas se encontram e nada mais as separa. Fique mais um pouco, meu bem, porque quando a lua for embora para dar espaço ao sol, quero amanhecer em nós.
Juju Varaschin

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Queria vestir tua pele.

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